ESPIRITO DE JOVEM

ESPIRITO DE JOVEM PARTE 4.


No quarto dia me encontro com ele novamente para corrermos.
Ele me pergunta como estou, digo que ainda sinto umas dores, mas que comparado com o dia anterior não são nada. Comento sobre as minhas divagações sobre o planeta Terra e o universo em geral com relação a corrida. Ele acha engraçado, nunca havia pensado nisso ,mas ficou contente com minhas observações.

_Vejo que você está começando a ver o espirito que gira o mundo.

Achei essa observação um pouco forte. “ o espirito que gira o mundo” seria a corrida a responsável por isso tudo?
_Aproveitando as minhas observações estou pensando na teoria do BIG BANG.

_Como assim?

_Imagine no começo de tudo! Tudo concentrado e de repente surge uma força ,uma necessidade de se movimentar e boommm! Há uma grande explosão e surge tudo o que conhecemos, com seus movimentos e direções conforme conhecemos.

_é verdade! Rsrsrs é engraçado pensar que , se essa teoria estiver certa, tudo surgiu de uma explosão , e talvez da necessidade de se expandir, se movimentar definindo os movimentos celestiais que nos conhecemos.

Enquanto ele falava em cima da minhas conclusões, fiquei observando como ele tinha a percepção de viajar nos raciocínio mais abstratos que eu tinha. São poucas as pessoas que conseguem isso. Amarrei o cadarço e fomos correr.
Começamos correndo devagarinho, eu já estava ciente que em qualquer instante ele iria fazer como outrora, aumentaria o ritmo me deixando para trás ,de forma a me induzir a correr mais e de certa forma demonstrar que apesar de ser mais velho, tem uma melhor resistência e capacidade física. Aquele dia ele me deixou para trás, mas hoje ,depois de ficar o dia todo de ontem deitado recuperando- me do estrago, iria dar o troco nele.
Ele puxou assunto, comecei a prestar atenção que ele fazia isso de propósito para eu cansar fácil, então comecei a dirigir a conversa sobre assunto em que ele podesse falar bem mais do que eu. E acabou dando certo ,enquanto ele falava eu estava concentrado no batimento do meu coração e na minha respiração, e aguardando o momento em que ele iria se calar aumentar o ritmo e se afastar me deixando para trás com o gosto da derrota. Mas hoje seria diferente, fazia muito tempo que eu não sentia esse espirito de competição, isso me fez recordar os velhos tempos em que corríamos juntos para disputarmos quem corria mais. Me alegrei em ter me lembrado disso, isso também era um hábito meu, ter um espirito de competitividade, mesmo que com a vitória eu não ganhasse nada. Mas só o fato de ganhar já satisfazia meu ego. É isso então! Na verdade eu quero é ganhar! Senti um prazer contido na constatação que eu não tinha tal fôlego para conseguir a vitória. Mas algo me dizia: “Que se dane o fôlego, a resistência , o coração e os pulmões! Na hora que ele aumenta o ritmo ,siga –o e depois vença !”
E de repente ele se calou e o esperado instante enfim chegou, começou a aumentar o ritmo, fui aumentando também. A grama estava baixa e havia poucos carros na avenida, era um dia de Domingo e o boteco da esquina estava cheio. Olhei aquele tanto de gente bebendo, rindo, outros olhando para a avenida ,talvez observassem nós correndo. Então fiquei recendido no dever de ganhar ,afinal havia ate publico para o meu desafio íntimo. Ele foi se distanciando, comecei a desanimar, meu consciente dizia a mim: “vai ficar para trás de novo? Vai desistir? E se isso fosse sua vaga na UFG e você tivesse que se superar? Iria desistir como está fazendo agora, só porque ele está se afastando?”
Não!( pensei comigo) não vou desistir! Vou pega-lo! E fui aumentando o ritmo o coração parecia entender a minha intenção, os pulmões pareciam absorver mais oxigênio ,um carro de som que passava na avenida tocava a nova musica “CLOCKS” da banda “ColdPlay” , isso para mim era como se fosse a minha musica para dar o troco e de repente eu disparei ao som da musica no encalço dele ,alcancei e ultrapassei ele com um certo orgulho e aumentei o ritmo para me afastar ,comecei a correr num ritmo de corredor de 100 metros rasos, pensei comigo: Meu Deus !Ainda consigo fazer isso?!
E a musica tocava alto e minha empolgação crescia, e crescia uma vontade de gritar Iiiiiiiiiii uuuuu! Mas meu pulmão já não estava dando conta da minha tresloucada disparada rumo a vitória ,quanto mais gritar! Mas não importa, gritei internamente a mim mesmo, como se fosse uma saudação a todos os músculos e órgãos em gerais do meu corpo que cooperaram para vencer meu adversário. Quando cheguei, parei, continuei andando ,logo ele chegou e o carro de som com aquela linda música da minha conquista foi embora, mesmo assim fiquei com a canção no meu subconsciente, como se fosse uma homenagem a aquele feito.

_ Nossa! O que aconteceu? Você disparou ,pensei que você não fosse mais parar.

Ainda ofegante eu disse:
_Acontece que cheguei a uma conclusão.

_Qual?

_Eu não estou tão velho assim, na verdade eu estou como estavam meus tênis, apenas empoeirado! Depois de lavado, eles estavam como sempre estiveram no passado.

Ele não entendeu, mas também não importa, a semelhança que fiz de mim em relação com os meus tênis cheio de teia de aranha eu guardei para mim.
Já estava de noite, e hoje eu passei essa transição como antigamente.
Passei correndo!
_estou de volta!
Assim acabava o 4º dia.